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Blog criado pelo 7 Ano A do Colegio Resgate Brotas SSA, com intuito de incluir a leitura na vida das pessoas.

domingo, 28 de agosto de 2011

Conto:Curta Metragem#06


Alunos, professores, funcionários, seguranças... todos faziam exatamente o mesmo: olhavam de longe os dois corredores; viam eles passarem; tentavam entender o que se passava; piscavam algumas vezes, procurando descobrir se aquilo era real ou não, se uma fuga de alunos alucinados era uma coisa que estava acontecendo ou se era algum tipo de miragem; então, gritavam algumas palavras de “parem”, ou “voltem aqui”, ou apenas um “ei”. Resumindo, ninguém podia impedi-los de fazer aquilo; e, pela primeira vez, Felipe sentiu-se livre, vivo, e toda a sua vida agora tinha uma razão.
Por fim pararam, no meio daquela praça de sempre, com um Sol escaldante sobre suas cabeças, abrigaram-se na sombra de algumas árvores. Depois de alguns minutos de risos e respirações profundas, tomaram fôlego e prepararam-se para conversar. Júlia tomou a iniciativa.
— Nossa! O que foi isso? — ela não conseguia parar de rir, muito ofegante.
— É que... — ele respirou fundo. — Espera, não dá para falar agora.
Felipe começou a rir; Júlia riu ainda mais, e ambos desabaram na grama, deitados e de mãos dadas. Estáticos naquela posição, olhando o ceu por quase dois minutos.
— Foge comigo! — Felipe levantou-se de lado, exaltado.
— Fugir? Mas pra onde? Como? — Júlia levantou-se também, encarando-o confusa, apesar de ter achado a ideia o máximo.
— Não sei... qualquer lugar, onde nossas pernas nos levarem! Eu tenho dinheiro! Para nós dois!
Felipe sorria mais do que nunca, e sua alegria contagiava Júlia.
— Quando? — ela perguntou baixo porém firme.
— Agora! Júlia, meu amor... eu aprendi tanta coisa com você! Agora sei o que fazer, tudo parece fazer sentido! Cansei de fugir de mim mesmo, de viver essa vidinha melancólica e medíocre, somente esperando a hora de morrer e me tornar mais um caixão no meio de um cemitério abandonado. Eu pensei bastante... e não me importo com o que vão pensar de mim... na verdade, quem me conhece, quem gosta de mim e me ama entenderá o que eu fiz e porque fiz.

— Tem certeza que é isso mesmo que você quer? — indagou Júlia, vacilante.
— Nunca estive mais certo! Eu estava preso todo esse tempo e você me libertou, trouxe a chave da minha salvação! Agora estamos livres, podemos fazer o que quisermos, a vida é muito curta para se perder tempo se arrependendo ou pensando se o que você for fazer é certo ou errado. Se você quer alguma coisa, faça, depois virão as consequências que você terá de enfrentar, mas pelo menos você viveu aquele momento e teve prazer! As regras foram criadas para conter pessoas como nós dois, que querem viver, que não aguentam mais ficar esperando a morte chegar, que veem na vida uma grandiosa aventura e não um simples caminho a se trilhar...
Ele fez uma pequena pausa, como se medisse as palavras.

— Sabe... eu tenho um sonho. Todos têm sonhos, de ser ricos, ou famosos, ou seja lá o que for, simplesmente sonhos. O meu é de voar... sempre quis voar. Olhar os pássaros me dá até uma certa inveja, de como eles podem ir para onde quiserem, com o vento deslizando pelas suas penas, vendo tudo de cima como pequenos pontos e coisinhas insignificantes. Isso que é a verdadeira liberdade! Eu não consigo me ver com oitenta anos na porta da minha casa a noite, contando histórias sobre uma aventura minha para os meus netinhos, e isso não tem nada a ver com a minha doença, porque muito antes de tê-la eu nunca consegui me enchergar nessa posição. Eu me imagino sim casando, tendo filhos e netos, mas não com essa visão padronizada que as pessoas tem. Sempre me imaginei na verdade voando por aí, pousando de cidade em cidade para abastecer e depois voltar às nuvens. “O ceu é o limite”, não é? Não! Muito pelo contrário, não há limite para aqueles que sonham, para aqueles que sabem seus objetivos, sabem o que querem e fazem o que querem. Todos podem fazer história, não importa o tempo que tenham. E a nossa história começa aqui Júlia! Você e eu, vamos para o infinito e até adiante, sem medo do que pensem de nós e sem medo do que vá acontecer. Não importa se dure apenas um mês, ou uma semana... o que importa é que seremos nós dois!
— Eu te amo e tenho sorte por ter te encontrado — disse Júlia, afetada pela felicidade de Felipe.
— Você acabou de ler meus pensamentos.
Ele sorriu. Ela estourou de alegria e o beijou. Eles rolaram pela grama e riram até não conseguirem mais.
— Vamos. Não temos tempo a perder! — levantou-se Felipe, puxando a mão de Júlia.
Eles pegaram as coisas, tiraram a grama que puderam do corpo e seguiram para a casa de Felipe. Júlia o esperou do lado de fora enquanto ele pegava todo o dinheiro que tinha economizado e mais algumas roupas. Deu perto de quatro mil reais, e para sua sorte só a empregada estava em casa, por isso entrou e saiu praticamente sem ser notado. Partiram para a casa de Júlia e pegaram algumas roupas. Ela conseguiu aproximadamente quinhentos reais; não era muito de economizar. Na rodoviária, entraram no primeiro ônibus possível, sem nem saberem para onde ele iria.
— Um dia contarão a história do casal de canarinhos que saiu por aí Brasil afora, sem medo do desconhecido. Eu te amo! — disse Felipe ao sentarem.
Felipe a envolveu com o braço pelos seus ombros. Ela deitou no seu peito e fechou os olhos. O ônibus acelerou e seguiu sua rota.

Epílogo
Era um belo dia ensolarado quando Júlio levantou da sua cama dois meses após o desaparecimento do seu melhor amigo. Como todos os outros dias, saiu enquanto comia uma maçã. Recebeu uma mensagem de bom dia da sua namorada Nicole, sorriu e continuou o caminho a passos largos.
— Ei! — gritou uma voz feminina para ele ao longe.
Ele viu uma garota loira, com cabelos na altura dos ombros, usando óculos escuros no estilo aviador. Ela não era estranha, era um rosto que ele já tinha visto antes, só que estava diferente no aspecto geral.
— Júlio, não é? — ela perguntou ao se aproximar.
Agora mais de perto ele se tocou, era Júlia.
— Júlia?
— Sim. Felipe pediu para te entregar isso.
Ela procurou por um pedaço de papel na bolsa e entregou para Júlio. A impressão inicial que ele teve foi de que ela não era a mesma pessoa que ele havia conhecido meses atrás. Os traços de loucura sumiram totalmente dela, só restando uma mulher alegre e convicta de si.
— Onde ele está? — continuou o que parecia ser um questionamento que não iria ter fim. Júlia percebeu e tratou de responder o mais diretamente possível, pronta para ir embora.
— Estava muito frio. Posso dizer que ele está migrando em algum lugar distante, a procura de condições favoráveis de temperatura e alimento, como as outras aves. Agora mais do que nunca ele é livre! Foi bom te ver novamente Júlio, se cuida.
Ela deu as costas sorridente e se afastou. Júlio ficou por volta de um minuto parado, pensativo com a carta na mão, sem coragem de ler. Voltou a si e correu atrás dela.
— Espera! Não vá! Tenho muito a te perguntar.
— O tempo é precioso. Não será a última vez que você me verá, tanto porque vai querer muito ver seu “sobrinho”.
A última palavra chocou Júlio, pegando-o de surpresa como uma flechada no peito.
— Se for menino será Júlio. A carta explica tudo. Adeus!
Ele não conseguiu acreditar, ficou estático até minutos depois que ela sumiu de vista. Finalmente tomou coragem e leu a carta, e ao terminar o primeiro parágrafo, caiu de joelhos na calçada. Lágrimas desceram pelo seu rosto que logo foi coberto com as mãos. Um pensamento surgiu: “como ela poderia estar tão feliz?”. Não acreditou, teve vontade de gritar, de chutar alguma coisa, bater no primeiro que visse. “Não pode ser real, não pode”, pensava e travava uma luta na própria mente. Pegou o papel já um pouco amassado e terminou de ler. E agora sorriu, percebeu que o amigo tinha encontrado seu caminho, o caminho da felicidade. Começou a rir e a chorar no chão da calçada, estava feliz e triste ao mesmo tempo. Agora tinha mudado; queria contar a todos a história do seu amigo e sentia orgulho de si por ter vivido com uma pessoa tão especial. Tinha agora um objetivo: conhecer seu “sobrinho”, e esperaria ancioso até que o momento certo chegasse. Levantou-se, limpou o rosto e seguiu caminho, deixando pra trás um bilhete amassado, com uma parte dobrada para cima por acaso: “...realizei meu sonho, agora posso voar...”.



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