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domingo, 31 de julho de 2011

Conto:Curta Metragem#02



Felipe o aguardava em um posto de gasolina, ponto de encontro anteriormente marcado. De lá seguiram para a casa de Nicole, trocando poucas palavras. A tristeza de Felipe naquele dia era um pouco maior, Júlio percebeu, sempre percebia, mas era tímido e nunca havia questionado o melhor amigo. Um alívio para Felipe que não responderia, mesmo sendo questionado.
Copos descartáveis com restos de refrigerante enfeitavam a mesa diante de Felipe. Ele não bebia nenhum tipo de álcool, nunca havia tomado uma gota e morreria sem tomar. Nunca teve vontade nem curiosidade de experimentar, assim como cigarro e drogas, sempre odiou.
— Você não vai dar o presente? — indagou a Júlio, depois de ter olhado pela enésima vez os ponteiros do relógio.
— Espera mais dois minutos, ela está rodeada de gente, mas eu sei que logo vai estar sozinha. Não me abandona agora cara...
— Pega mais um refrigerante pra mim, sem gelo.
Júlio obedeceu. Tinha que obedecer, precisava do apoio do amigo naquele momento, mesmo que num futuro próximo fosse sozinho ao encontro da garota dos seus sonhos. Nicole tinha uma beleza comum, que não chamava muita atenção, mas que havia conquistado Júlio.

Felipe praticamente empurrou Júlio ao encontro de Nicole quando a mesma se encontrou sozinha, perambulando pela casa. Ele riu quando o presente foi dado de uma maneira totalmente despreparada e sem jeito, uma cena que pouco se vê em relação à Felipe.
Ele esperou o refrigerante acabar e queria esperar também que Júlio tomasse iniciativa de um beijo, mas não conseguiu, seu amigo era terrivelmente tímido. Para o bem de Júlio, Nicole não tinha esse problema e o beijo ocorreu, bem depois, quando Felipe já tinha deixado a casa.
O caminho até a porta foi tortuoso para Felipe, muito barulho e pessoas se esbarrando, além de duas garotas que o encararam durante toda a festa, agora estavam no seu caminho, gritando coisas ao seu ouvido. Coisas que ele nunca chegou a ouvir, mas sabia exatamente o que eram. Se livrou de todos, chegando ao ar livre com um suspiro de alívio. Olhou ao seu redor: um quintal grande, com outros jovens espalhados por ele. Atravessou-o olhando para baixo como sempre. Deu uma leve olhada para trás ao chegar perto do portão, como se verificasse se estava tudo bem com seu amigo. Voltou-se para frente e parou, fitando o portão como se esperasse que este abrisse sozinho. Estranhamente, abriu-se. Um casal entrou por ele rindo, sem notar que Felipe estava lá. Aproveitou a brecha e saiu portão afora.

Três carros estavam parados à frente da casa. “Normal por ser uma festa adolescente sem a presença de adulto algum”, pensou Felipe. Um outro casal se beijava dentro de um dos carros, um beijo frenético que prendeu a atenção dele, que observou as carícias dos dois como se desejasse aquilo, e realmente desejava, mas não podia de jeito algum, tinha a mente moldada quanto a qualquer tipo de relacionamentos: recusava todos. Tomou consciência de si após alguns segundos e seguiu seu caminho de volta pra casa, querendo evitar pensar em relacionamentos.
Mais adiante, uma garota estava sentada sozinha na ponta do meio fio, com os braços deitados no joelho e as mãos servindo de apoio para o queixo. Ela fitava o outro lado da rua como se visse um filme muito interessante. Felipe seguiu seu olhar e viu que não havia exatamente nada do outro lado, mas a curiosidade o corroía. Então, ciente de que estava prestes a cometer um ato considerado louco por si mesmo, sentou ao lado dela, mas a mesma não mostrou nenhum sinal de vida, como se estivesse num estado de transe. Felipe então passou a observar o outro lado da rua, e os dois ficaram ali parados olhando o nada.

Quem visse aquela cena pensaria que os dois estavam altamente drogados. Percebendo isso, Felipe levantou-se já para deixar aquela garota louca sozinha. Vista de cima parecia apenas uma pessoa qualquer, sentada no meio fio após ter bebido além da conta em uma festa adolescente.
Repentinamente, ele ouviu uma voz bem baixa, quase imperceptível, mas entendeu claramente o “não vai embora”. Ele travou na hora, não sabia o que fazer, tentou pôr na cabeça que não tinha sido nada, mas não podia mentir para si. Voltou-se e sentou ao lado dela, que continuava olhando para frente, fixando o mesmo ponto. Ele queria dizer algumas palavras, mas não sabia quais, por isso limitou-se a observar o rosto dela. Prestando mais atenção era uma garota bonita, com um rosto pequeno com maçãs volumosas, terminando com um queixo afinado. Seus olhos eram pretos como carvão, fazendo contraste com os fios loiros de um cabelo quase branco. Felipe sorriu com aquela beldade na sua frente, mas se irritou ao pensar que a desejava.
— Quem é você? — indagou, cortando aquele clima frio.
— Meu nome é Júlia — ela finalmente encarava Felipe.
— Você estava olhando o quê?
— Não sei, e você?
— Você.

Júlia corou, foi pega de surpresa. Aquela palavra tinha saído sem pensar, e mesmo que fosse a resposta correta, não era certo que ele a pronunciasse, porque sabia que rumo essa conversa toda poderia levar.
— Eu tenho câncer — disse Felipe subitamente, talvez porque a vontade de espantar aquela garota louca e atraente fosse enorme. Ele não podia cair em tentação, não podia se apaixonar, não podia fazer isso com ela.
— Eu tenho DDA — disse Júlia, como se não tivesse ouvido o que ele a havia contado, ou como se aquela doença fosse comparável a um simples resfriado.
— Você me ouviu? — agora Felipe mostrava preocupação no rosto. “Ela deve ser doida”, pensou.
— Ouvi sim, e você me ouviu? Ou não sabe o que é DDA, porque ainda continua me encarando como se eu fosse uma louca! — a última palavra foi gritada, praticamente cuspida.
— Não sei o que é... Desculpa...
Dessa vez Felipe estava totalmente surpreso. Ninguém nunca havia reagido dessa forma com a notícia da sua doença, e agora ele ainda tentava entender o que ela queria dizer, que doença era aquela que ela tinha, mas não sabia o que pensar, nem o que falar.

Continua...


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