Bem Vindos ao De olho na Leitura!!
Blog criado pelo 7 Ano A do Colegio Resgate Brotas SSA, com intuito de incluir a leitura na vida das pessoas.

sábado, 6 de agosto de 2011

Conto:Curta Metragem#03



Dessa vez Felipe estava totalmente surpreso. Ninguém nunca havia reagido dessa forma com a notícia da sua doença, e agora ele ainda tentava entender o que ela queria dizer, que doença era aquela que ela tinha, mas não sabia o que pensar, nem o que falar.
— É um distúrbio de falta de atenção... por isso que você me acha louca... — continuou Júlia, ao perceber o quão desconcertado ele havia ficado.
— Mas o que faz aqui sozinha? — ele agora tentava puxar assunto, medindo cada palavra, com um medo excessivo.
— O mesmo que você, provavelmente.
— Olhando pro nada?
— Fugindo da festa...
— Eu só vim para trazer um amigo, ele já está bem acomodado agora.
— Eu... dá pra parar de me olhar dessa forma?! Não sou maluca! — gritou novamente, parecendo ainda mais louca, apesar de que não estava errada em reclamar, Felipe ainda a olhava como se estivesse de frente pra uma fera insana. Ele não soube o que dizer, apenas abaixou a cabeça envergonhado e começou a passar o tênis por cima de uma pedra. Depois de alguns segundos o encarando, ela voltou a falar. — Eu não gosto desse tipo de festa.
— Por que veio então? — ainda fitava o chão, sem coragem de encarar a loira.
— Não gosto de ficar em casa. Olha pra mim... agora me sinto como uma aberração que você não tem nem coragem de olhar.
— Desculpa garota, novamente, sei lá, me sinto tão estranho agora... sua reação foi estranha.
Ele voltou a olhar pra ela, agora sem medo, apenas confuso, visivelmente confuso. Ela pareceu ter acordado de um sonho com a frase que havia sido dita, e de súbito partiu pra cima dele, roubando-lhe um beijo. No começo, Felipe pensou estar sonhando, nunca havia imaginado uma cena daquelas, mas depois entregou-se ao clima anormal e beijou-a de volta, deixando completo o “freakshow”.

O beijo durou aproximadamente dez minutos, com uma troca intensa de flúidos, muito parecido com uma novela. Ao se separarem, Felipe estava completamente pálido e mudo, enquando Júlia estava feliz e radiante. Súbito, o rapaz se levantou e saiu dali correndo, inicialmente apenas fugindo, e nos finais, correndo como se quisesse salvar sua vida.
Parou perplexo alguns metros adiante. Percebeu não ter olhado para trás sequer uma vez, nem prestou atenção nos sons à sua volta, tomado por uma surdez temporária enquanto corria. Não sabia porque tinha feito aquilo, mas sabia que era o certo, apenas pressentia. Estava suado, perdido em meio a uma rua movimentada, olhando ao redor um pouco assustado. Ainda refletia sobre o que havia feito e se seria mesmo o certo.
— Com licença — uma voz o cercou por trás, assustando-o. Ele virou com um certo medo nos olhos, e sem querer até transmitindo seu medo para a mulher de uns quarenta anos que o encarava. Meio sem jeito ela continuou a falar o que queria. — O senhor tem horas?
— Horas? Ah... sim, tenho... — pegou o celular ao bolso e conferiu. — Onze e trinta e sete.
— Eh...obrigado.
Os dois viraram-se praticamente ao mesmo tempo, cada um tomando uma direção. A de Felipe foi de volta para sua casa, onde, ao chegar, desabou na cama sem falar com ninguém, com as mesmas roupas que estava desde cedo.

Abriu os olhos. Estava claro, muito claro. Tudo estava branco, somente branco, nada além de branco. “Estou morto?”, pensou Felipe. Sua cabeça então começou a doer, o branco foi sumindo e dando espaço às outras cores. Aos poucos percebeu que estava acordando de um sonho que não se lembrava. Não era comum para Felipe lembrar-se dos seus sonhos, acontece com muitas pessoas, não é nada de errado. Mas não quer dizer que tudo estivesse certo. Ao levantar, sentiu um gosto metálico na boca, era sangue. Foi direto ao espelho e percebeu que um fio de sangue escorria pelas sua narina direita. Tratou logo de limpá-lo; jogou um pouco de água no rosto e esperou um pouco; com o sangue estancado, ignorou o ocorrido. Desceu e tomou um remédio para amenizar a dor que sentia na cabeça, fora isso, fez tudo que fazia normalmente, seguindo sua rotina até chegar no colégio. Aparentava uma palidez fora do comum durante as aulas, no mais, tudo estava normal.
Naquele dia, não encontrou com o seu melhor amigo, e nem se preocupou com o paradeiro do mesmo. Passou o dia ao lado dos outros garotos da sua sala, com quem fala pouco. Durante o intervalo foi como se tivesse morrido para o mundo, porque ficou isolado do lado de fora da sala de aula, acompanhado de uma maçã tão vermelha que aparentava ser roxa, e esperando que desse o horário de se seguirem as aulas. Algumas pessoas passaram por ele naquele momento, o olharam como se fosse uma aberração, mas foram olhares que não passaram de milésimos de segundo, porque na verdade ninguém se importava com o que acontecia fora dos seus mundinhos particulares.
Felipe estava com medo, ainda mais que na noite anterior. Medo do que tinha feito na noite anterior com aquela garota dos cabelos quase brancos, somado com o medo que tinha agora devido à dor na cabeça e ao sangramento nasal. “Minha morte está próxima, tenho que evitar ainda mais contato com as pessoas... não quero que se machuquem por minha culpa...”, pensou.
O tempo voou. Horas passaram como se fossem segundos, perdido em pensamentos e com o olhar sempre na janela. Nenhum professor se incomodava com o fato de ter um aluno presente de corpo e totalmente ausente de mente na sala de aula, mas se preocupariam se esse fato se espalhasse como uma doença e todos começassem a copiá-lo. Os professores sabiam da doença de Felipe, por isso deixavam-no em paz.

Como sempre, sua saída de sala foi um alívio. Contemplou o Sol, as nuvens e o ar puro. Um mundo o esperava para ser observado. Tinha em mente repetir o almoço na praça, porque dessa vez ele precisava disso. Mas uma folha de papel chamou sua atenção. Uma folha colada em uma arvore, com uma foto. A sua foto. Intrigado, olhou ao redor, como se fosse achar o responsável por sua foto estar presa no tronco de uma árvore. Olhou de volta e leu o que estava escrito logo abaixo da foto: “Procurado. Vivo. Somente vivo rs”, e ainda mais embaixo um número de celular. Ele ficou furioso com aquilo, “como podem usar minha imagem assim? Eu não permiti nada!”, bufou de raiva em pensamento. Puxou com força aquela folha de papel e amassou-a nas mãos. Seguiu com passos firmes e jogou-a no primeiro lixo, mas tornou a se assustar. Outra árvore com o mesmo recado. Sua raiva passou rapidamente para medo, estava totalmente nervoso e assustado. Olhou ao seu redor e percebeu que sua foto estava em todas as árvores daquele colégio.
Continua...

Nenhum comentário: